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Por volta de 1970, Simon e Garfunkel cantavam, com
direito a quena e tudo, o pássaro mais conhecido da Cordilheira dos
Andes - "El concor pasa em cielo del Peru/Del Peru..." Naquela mesma
época - um pouco depois -, o condor batizava um movimento coordenado das
ditaduras sul-americanas, instaladas no Brasil, no Uruguai na Argentina
e no Chile, para trocar informações e prisioneiros e coordenar a
repressão política no continente, com apoio direto dos EUA. Muitas vidas
foram destruídas na Operação Condor. Roberto Mader realiza agora o
resgate do que foi aquela época sombria. Em vez de números, ou das frias
análises políticas dos estrategistas, ele prefere o viés intimista.
Conta histórias humanas, de gente cuja vida mudou para sempre naquele
período tumultuado. Veja também: Trailer de 'Condor'
"Tenho a impressão de que o filme ia passar pelas pessoas, se
fosse feito de outra forma, mais focado nas estatísticas, por brutais
que sejam, da Operação Condor. No limite, o que fica com o espectador é
aquilo que eu queria atingir - a história da menina, emblemática de todo
o período." A menina a quem Mader se refere chama-se Victoria e tinha
apenas um ano e meio quando viu os pais serem assassinados. O irmão e
ela foram levados para um orfanato em outro país, o Chile, onde e depois
adotados. Trinta anos mais tarde, a avó biológica conseguiu
localizá-los. O filme conta muitas dessas histórias, mas a dos uruguaios
Victoria e Anatole talvez seja única porque as duas famílias, a
biológica e a adotiva, se uniram. Uma trama dessas parece coisa de
ficção, mas aconteceu. Roberto Mader vivia no exterior, na Inglaterra,
quando esse projeto começou a tomar forma. Demorou muito tempo, mas ele
não quer explorar a idéia do cineasta - coitadinho - que demorou uma
década para concluir seu projeto. Agora mesmo, ele está endividado -
gastou o que não tinha -, mas feliz. Condor foi premiado no Festival de
Gramado do ano passado e entra nesta quinta-feira, 1, em exibição no
circuito comercial. O filme chega para esclarecer, mais do que para
provocar polêmica. Mader selecionou seu recorte e, com certeza, tem
uma nítida preferência pelas vítimas dessa história, mas ele dá voz ao
outro lado, aos carrascos, na tentativa de entender. Um dos depoimentos
mais contundentes de seu filme é o do senador Jarbas Passarinho -
ex-ministro dos governos militares -, que admite que houve um golpe de
Estado no Brasil. Na definição de Passarinho, totalmente pró-golpe, "Nós
tivemos de almoçá-los antes que eles nos jantassem". Não é todo mundo
que têm essa coragem de assumir os próprios gestos. O personagem mais
antipático de todo o imbróglio termina sendo o filho do ex-ditador
chileno Augusto Pinochet. Com o pai enfermo - e impossibilitado de falar
-, ele aceita dar seu depoimento, mas cobra para isso. Foi justamente
a partir da prisão de Pinochet, em 1998, quando começou a se falar mais
abertamente da Operação Condor, que Mader chegou à conclusão de que
tinha de fazer o filme. No Chile e na Argentina, onde a repressão foi
mais violenta - e o número de vítimas, maior -, sempre houve um forte
debate sobre o que ocorreu. No Brasil, a tendência é esquecer os anos de
chumbo. A própria decisão de oferecer uma reparação material às vítimas
da repressão provoca controvérsia. "Tem gente no Brasil que ganhou
fortunas dizendo-se vítima da repressão, enquanto a viúva do metalúrgico
Manuel Fiel Filho (morto em 1976) ganha uma miséria. O chato disso é
que cria na opinião pública uma aversão à reparação. Também é um fato
que nenhuma reparação material consegue substituir o horror da outra
reparação, a moral, a psicológica." Para chegar aos personagens, Mader
teve apoio de ONGs e organizações humanitárias em diversos países, mas
se você pensa que foi fácil, engana-se. "Até nessas organizações existe
muita divisão interna." Condor tinha muito mais histórias, que Mader
foi abandonando. "Doía na sala de montagem quando a gente abria mão de
depoimentos e de personagens. Mas o tema é pesado e o filme precisava
ser pensado também como linguagem para chegar ao coração do público, que
era o que me interessava." Histórias essenciais permanecem, como a dos
uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Diaz, seqüestrados em Porto
Alegre, com apoio da polícia brasileira. O caso despertou talvez a
primeira grande batalha da imprensa brasileira contra o regime. Hoje, a
própria Lílian diz que o marido e ela foram salvos pela campanha
desencadeada no Brasil. Outra história dolorosa é a de outra uruguaia,
Sara Mendez, presa quando seu bebê tinha apenas 20 dias. O garoto foi
criado por policiais. Ela conseguiu chegar até ele, mas o filho
permanece dividido. Pode ser que essa preferência de Mader pelo recorte
humano, familiar, tenha a ver com a situação que ele vive. Não - Mader
não viveu eventos como os do filme, mas casou-se na Inglaterra, teve
filhos, o casal se separou e hoje os filhos com a mãe, no exterior. Não é
a mesma coisa, claro, mas este homem sensível - este diretor talentoso -
entende a dor da separação. Seu filme fala disso numa potência muito
maior, e mais terrível. Você poderá até se perguntar se essas coisas
ocorreram de verdade. Sim, ocorreram, e nada trará de volta o que foi
perdido. A reparação - moral - somente poderá atenuar o problema.
Condor (Brasil/2007, 103 min.) - Documentário. Dir. Roberto Mader. 10
anos. Ci-ne Bombril 2 - 18 h. Uniban-co Arteplex 8 - 16 h, 20 h, 22 h.
Cotação: Bom
Deixando um link válido do Documentário Condor em AVI - http://www.2downloadz.com/sirohzo9hw
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